domingo, 28 de agosto de 2016

GESTÃO EMPRESARIAL EM TEMPOS DE CRISE I - VISÃO SISTÊMICA DA CRISE NO BRASIL

O grande desafio que empresários estão passando, independente do tamanho da sua empresa, está em como agir num cenário de crise. Para entender a crise nos mercados privados faz-se necessário compreender os cenários políticos e administrativos do País, segundo uma visão sistêmica, 

Primeiramente, somente para compreender as assertivas que pretendo fazer acerca da crise, é que toda crise tem seu fim. Foram várias as crises vivenciadas no Brasil. Porém todas declinaram. 

A título de compreensão do contexto em que o País se encontra, é importante dizer que o cenário atual é oriundo de uma série de situações que começam em meados de 2008, período em que parte do mundo estava em crise, notadamente os Estados Unidos da América. Aquela crise foi decorrente de vários fatores, como variações na produção de petróleo; "fabricação" de dinheiro, por conta das guerras contra a ofensiva terrorista; a "bolha" imobiliária causada pela grande oferta de imóveis e juros baixos, dentre outros.

Como em toda crise, enquanto uns perdem, outros ganham. Além da herança da estabilidade econômica recebida, o Brasil surfou na crise, que chegou a ser chamada pelo Presidente, à época, de "marolinha". Ressalte-se que foram desenvolvidos programas sociais, que geraram movimentação na microeconomia. Também foram inseridas parcelas significativas da população na economia, anteriormente não pertencentes à sociedade de consumo, notadamente através da "blindagem" realizada pelo governo, impedindo artificialmente o aumento de energia elétrica e combustíveis, reduzindo impostos das indústrias de veículos e dos eletrodomésticos da "linha branca", ampliando o crédito (e o endividamento), aumentando o consumo, aliás, apostando no mesmo, como forma de crescimento do País. Houve uma "explosão" do nível de emprego. O Produto Interno Bruto - PIB chegou a aumentar em torno de 5% ao ano, em média, gerando superávits primários relevantes. 

Era evidente, pelo menos para alguns, que essa estratégia de incentivo ao consumo poderia se esvair em si mesma. Por outro lado, a crise externa, já aqui citada, não poderia ser considerada eterna. E não foi. Então os "dividendos" decorrentes da mesma, não poderiam ser considerados como definitivos. E não foram. Foi um erro de estratégia. Dando um salto de alguns anos, e de uma gestão de Governo Federal, essas situações estabeleceram um declínio dos ganhos anteriores.

Faltaram, também, algumas reformas estruturadoras, tais como a política, a tecnológica, a de infraestrutura, a de capacidade instalada, a energética, além de investimentos equivocados, ou pelo menos, sem a compreensão das questões cíclicas e de riscos. Um exemplo disso foi o grande projeto de prospecção de petróleo do pré-sal, numa época em que o valor do barril chegou a mais de cem dólares, os altos custos da sua exploração foram menosprezados e, a partir do momento de queda do seu valor no mercado internacional, a menos de um terço do valor desse período, estabeleceu um cenário complicado, nesse contexto. Outro erro de estratégia.

Os problemas gerados pelo declínio da economia do País foram proporcionais ao "sucesso" anterior. Grande parte deles decorrentes da falta das citadas reformas e sem a necessária revisão das políticas públicas, aliado ao tamanho da "máquina" pública, superlativamente conduzida para fazer frente às demandas, mas também por, novamente erro de estratégia, por ter sido azeitado por componentes políticos e ideológicos.

Não pode ser colocado em segundo plano a questão da corrupção. Prática não exclusiva a quaisquer cores partidárias, porém, nos últimos governos,  dada a velocidade da informação, com o advento das redes sociais, a mudança de postura de alguns agentes do meio jurídico, com a judicialização desses atos ilícitos, com denúncias de agentes direta ou indiretamente envolvidos, os questionamentos e consequências da corrupção tiveram influência significativa nos rumos do País, a ponto de estarmos com uma Presidente sofrendo um processo de impeachment, fruto de práticas de irresponsabilidade fiscal, decorrente de atos governamentais para, num primeiro momento, esconder a crise, por conta das eleições de 2014, e posteriormente para tentar corrigir os problemas decorrentes da "crise".

Esse conjunto de fatores estabeleceu o formato da crise atual. Segundo recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, chegamos, por conta dessa crise, às seguintes consequências:


  • 57% tiveram um parente demitido
  • 56% procuram um trabalho extra
  • 67% estão com dificuldade de pagar as contas
  • 24% venderam bens para pagar ou amortizar seus débitos
  • 19% mudaram de casa para situações mais adequadas ao orçamento
  • 34% cortaram o plano de saúde
É nesse cenário, que na próxima postagem abordaremos algumas formas de enfrentamento dessa crise.



Artigo by Ivan Carlos Cunha
Diretor de Consultoria e Engenharia da TCE
www.tceconsultoria.com

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