Dentre os segmentos mais afetados por essa pandemia, decorrente do Vírus COVID19, estão os segmentos voltados para o mercado amplo de turismo que engloba viagens a negócios e a lazer, passagens aéreas, diárias de hotéis, locações de veículos, viagens de trem e cruzeiros marítimos.
No ano de 2019 as empresas voltadas ao mercado de turismo movimentaram o montante de R$ 238,6 bilhões, segundo dados do Ministério do Turismo), com um total de 2,9 milhões de empregos diretos. Até o presente momento, devido à retração da economia por conta do COVID19, o mercado amplo de turismo já perdeu R$ 62 bilhões de reais e já aniquilou cerca de 300 mil postos trabalho. Além disso, companhias aéreas históricas pediram concordata, como a Alitalia e a KLM da Holanda, outras pediram falência como foi o caso da Avianca da Colômbia e Flybe do Reino Unido.Hotéis encerraram as atividades cancelando postos de trabalho e desempregando definitivamente milhares de funcionários.
Diante desse cenário onde companhias aéreas, hotéis, locadoras de automóveis, empresas de transfers e excursões, entre outras estão operando com cerca de 10% de sua capacidade nominal e levando em conta que o mercado de agências de viagens e operadores de turismo tem o seu lucro obtido da venda desses serviços, fica claro que teremos um panorama de fusões e aquisições nesse mercado em um futuro pós pandemia.
Todas as empresas desse segmento que não tiverem lastro financeiro que permita manter um prejuízo operacional de pelo menos uns seis meses, sucumbirão. Algumas entrando em insolvência e outras simplesmente encerrando as atividades. Aquelas empresas que sobreviverem e estiverem em estado de insolvência deverão se fundir com outras na mesma situação ou serem adquiridas por empresas em melhor condição financeira e que ainda tenham uma boa capacidade de endividamento dentro do mercado financeiro.
As empresas sobreviventes precisarão de alguma ajuda financeira, seja através de empréstimos bancários, seja através de ajuda governamental, em um primeiro momento muitos postos de trabalho não serão repostos de imediato pois como uma grande locomotiva partindo do zero a indústria do turismo precisará ganhar lastro financeiro, gerar capital de giro, pagar os empréstimos bancários, voltar a sentir confiança para reinvestir no mercado, e tudo isso leva tempo até o mercado se reorganizar.
As empresas precisarão também aprender a fazer o “dever de casa”, ou seja, precisarão aprender a investir em aprofundar seus processos de gestão, estabelecer um planejamento responsável, de médio e longo prazo, estabelecer a otimização de recursos humanos e financeiros, precisarão implementar ferramentas de gestão em tempo real com foco em acompanhamento financeiro, entendimento sobre o que o cliente deseja, otimização dos processos internos e aprendizagem e crescimento intelectual de sócios e colaboradores.
Outra vertente que precisará ser estudada é a nova dinâmica de consumo, que envolve a mudança de comportamento do consumidor, que está aprendendo a adquirir produtos e serviços através de redes sociais e meios eletrônicos, talvez reduzindo os setores de atendimento e compra dos serviços de turismo. Outrossim, a retomada, conforme já foi dito, será lenta. As pessoas ainda estarão reticentes em utilizar serviços e espaços que envolvem aglomerações e convívio social. Isso irá requerer uma nova estratégia de marketing, vinculando a ações de segurança sanitária, como limpeza, protocolos de utilização, dentre outros.
As empresas que não trabalharem essas perspectivas supracitadas sucumbirão pois o novo mercado que surgirá em um mundo pós corona vírus será muito mais exigente e técnico não admitindo amadorismos transformando-os em investimentos fadados ao fracasso. Com lucros cada vez menores e riscos maiores, o mercado de turismo verá nos próximos anos pós pandemia, um número cada vez menor de agências de viagens físicas, bem como um crescimento nas agencias virtuais e individuais. Da mesma forma que as companhias aéreas mudaram o seu modelo de apresentação ao mercado na primeira década do século XXI, fechando escritórios em que trabalhavam até 40 funcionários em cada cidade aonde as companhias aéreas operavam e mantendo apenas um ou dois funcionários em home base. (promovendo uma enorme redução de custos para as empresas aéreas).
Não compensa mais manter uma grande agencia de viagens devido ao seu auto custo com despesas fixas e com pessoal quando os lucros provenientes do mercado de turismo não são mais suficientes para pagar esses custos e ainda obter lucro para os sócios investidores, também no segmento corporativo do turismo, empresas e órgãos públicos forçam o mercado a se destruir, tentando obter cada vez mais vantagens e descontos em seus contratos destruindo assim a lucratividade das agências que atuam nesse segmento.
Sem um valor mínimo de comissão regulamentado por órgão regulador do turismo (Embratur/Cadastur) em consonância com as ABAVs estaduais e nacional o mercado de turismo está fadado a desaparecer em alguns anos, assim como aconteceu com grandes companhias aéreas. Lembrando que as ABAVs estaduais e a ABAV nacional (ABAV = Associação Brasileira de Agências de Viagens) precisam agir rápido junto ao ministério do turismo para defender a manutenção do mercado de agências de viagens, caso contrário desaparecerão uma vez que são mantidas pelas mensalidades das referidas agências que no momento atual e com as condições atuais de mercado estão fadadas ao encerramento de suas atividades.
Da mesma forma que o mercado de companhias aéreas precisou se reestruturar e aquelas que decidiram não participar dessa reestruturação sucumbiram (TransBrasil, Vasp e Varig), o mercado de agências de viagem deverá também sofrer uma enorme reestruturação para se adequar às mudanças e necessidades do mercado de turismo no mundo pós pandemia, essa reestruturação precisa ser iniciada o mais rápido possível, caso contrário em dez anos não teremos mais nenhuma agencia de viagens física aberta no Brasil.
Artigo by FRANCISCO VIANA
Administrador e Especialista em Gestão
Diretor de Logística e Planejamento Estratégico da MODUS
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