Comunicação é feito futebol, todo mundo acha que entende, ao menos um pouco. E muitas vezes quem está de fora pensa até que se ocupasse o lugar do técnico faria melhor. Eis o grande desafio de um gerenciamento de comunicação nos setores públicos ou privados ou em qualquer outro segmento. Desafio que oportunamente há de ser evidenciado no relacionamento com a mídia, no gerenciamento de uma crise, na estratégia de divulgação de um evento, ações e programas. Ou ainda, ao emplacar uma boa matéria exclusiva num jornal, revista ou TV.
Ocorre que nada disso será possível se o gestor não tiver a matéria prima de um repórter em qualquer redação: a informação. E assim ele precisa fazer parte do núcleo estratégico do órgão ou da empresa em que presta os seus serviços, com “poder” de decisão. Pois é o seu olhar técnico/jornalístico que fará a diferença na hora de contribuir para identificar a notícia e como ela deve ser melhor trabalhada junto aos veículos da grande Imprensa e internamente. É o olhar do profissional da área que poderá neutralizar uma crise e até preveni-la. E fazer a melhor opção do porta voz do momento, que nem sempre deverá ser o presidente da empresa, o secretário, o governador, o ministro ou o presidente da hora.
Essa rotina requer, também, muito jogo de cintura, habilidade para o barco não afundar antes mesmo de navegar. Porque a vaidade é uma característica que permeia os ambientes de trabalho nas disputas por reconhecimento. E a área da comunicação é sempre oportuna para dar a visibilidade que todos buscam para si mesmos. Convenhamos: administrar vaidades não é para qualquer um e essas situações sobram quase sempre justamente para a comunicação. Diante dessa realidade, um ruído qualquer nesse diálogo pode colocar tudo a perder e todos afundarem, inclusive ele o próprio gestor.
Outras prioridades de um gerente do setor requer um diagnóstico básico para saber onde se está pisando, além de um planejamento mais característico em termos de linguagem, ações previstas, instrumentos a serem utilizados, aliados a um cronograma com perspectiva real de ser concretizado. Paralelo a essas iniciativas, como em toda profissão, a experiência conta muito. Especialmente nos momentos críticos, quando o inevitável acontece - a exemplo de um desastre aéreo, que gera uma crise para a empresa e não há tempo a perder, é preciso agilidade para ao menos neutralizar o impacto negativo na reputação do assessorado/cliente. Isso exige não só compromisso e boa vontade do profissional, porém vivência, capacidade de articulação com os públicos interno e externo, especialmente com a mídia.
E por falar em mídia, não dá para ignorar nem de longe as redes sociais, espaço cada vez mais acessado pelas diversas camadas da sociedade, inclusive com uma faixa etária diversificada a depender do perfil da rede. A notícia que antes era mais exigente, do ponto de vista da apuração e do próprio fato em si, com o aparecimento do Facebook, Twitter, Instagram entre outras, se transformou em algo que não precisa ser mais exclusivo. Tudo que cai na rede pode virar notícia em um segundo. E essa “nova” realidade exige um monitoramento também eficaz.
Gerenciamento de comunicação determina, portanto, como já dissemos, foco na reputação da empresa ou órgão envolvido. Por essas e outras fazer parte do núcleo de decisões estratégicas da instituição é fundamental, pois o olhar jornalístico identifica a notícia boa ou ruim e, muitas vezes, tira da caixinha algo que estava sendo desprezado por quem não é da área e transforma-o num grande marco positivo para o cliente pessoa física ou jurídica. Afinal gerenciamento de comunicação não serve apenas para apagar incêndios, como muitos atribuem.
ADRIANA CAVALCANTE, jornalista e parceira da MODUS, é autora deste artigo.